Carreira em Y, você sabe pra onde vai?

Homem escolhendo entre dois caminhos
Homem escolhendo entre dois caminhos

Trabalho com TI há mais de duas décadas mas sempre mantive com um pezinho na “carreira técnica”, mesmo quando exercia papéis de gestão (coloquei algumas coisas de ML no meu Github). Recentemente estou estudando o conceito de trilha de engenharia, ou “trilha técnica”, o que é relativamente novo para muitas empresas. Vejo que as organizações ainda não tem um consenso sobre as habilidades esperadas de seus engenheiros mais seniores e sobre o tipo de trabalho que esses profissionais devem realizar.

Mesmo que grande parte concorde que o topo da carreira técnica não é apenas “uma pessoa mais senior”, ainda não há um entendimento geral sobre o que ele representa. Afinal, por que uma organização desejaria que engenheiros de alto nível permanecessem na empresa? Acredito que a resposta para essa pergunta é que esses serniores trazem uma visão mais ampla, discutem arquitetura, lideram projetos complexos e elevam o nível da engenharia na empresa.

A escalada da carreira em Y

Tradicionalmente, a progressão na carreira nas empresas muitas vezes leva as pessoas ao caminho da gestão. No entanto, a Carreira em Y oferece uma alternativa, permitindo que engenheiros seniores continuem avançando tecnicamente, como pode ser acompanhado na Figura 1. Assim, a primeira posição  técnica acima do nível senior geralmente é a de Engenheiro de Time (Staff Engineer). De fato, uma vez promovido, uma mudança de staff engineer para gestor, ou vice-versa, seria considerada uma mudança lateral, não uma promoção.

Além disso, um staff engineer senior teria a mesma senioridade que um gestor sênior, e um engenheiro principal equivaleria a um diretor. Repare que isso é apenas um exemplo de nomenclatura e pode variar de empresa para empresa, o que usei neste texto é uma adaptação do que li no capítulo 1 do livro The Staff Engineer’s Path, da O’Reilly. No Itaú, por exemplo, os titulos dos cargos são de Coordenador – Especialista I / Gerente – Especialista II / Superintendente – Especialista III / Diretor – Especialista IV.

 

 

Carreira em Y
Figura 1: Opções de evolução da carreira em Y

 

O que fazer?

A Carreira em Y permite que pessoas em nível sênior, que estejam em prontidão de promoção, escolham entre desenvolver habilidades de gestão ou aprofundar suas capacidades técnicas. Lembrando que é importante esse alinhamento com a estratégia da empresa. Isso é, não adianta a pessoa querer ir para uma vaga de gestão se a empresa precisa neste momento de uma liderança téncica. Da mesma forma que não adianta querer uma liderança técnica se a empresa precisa de uma pessoa para gestão.  Dessa forma, o engenheiro pode progredir tecnicamente na carreira sem necessariamente se tornar um gestor. Isso significa que essa abordagem se tornou uma alternativa valiosa para o desenvolvimento profissional técnico.

Há alguns anos, um diretor para quem eu reportava, me disse que essa segmentação das duas trilhas do Y trabalhavam juntas. O caminho da gestão direcionava o que era para ser feito e o caminho técnico liderava e direcionava como as coisas deveriam ser feitas.

A importância dos títulos

Apesar de algumas pessoas e empresas argumentarem que os títulos não importam (eu, particularmente, sou deste time!), um estudo de Krukowski (2017) aponta que eles são essenciais. Os titulos ajudam as pessoas a perceber que estão progredindo dentro da carreira. Além disso, conferem autoridade àqueles que não a receberiam automaticamente. Ajudam a comunicar um nível de competência esperado para o mundo externo, atuando como símbolos que as empresas usam para sinalizar as qualidades de seus trabalhadores, tanto interna quanto externamente.

Krukowski, K. (2017, September). The Effects of Employee Job Titles on Respect Granted by Customers. In Seventh International Engaged Management Scholarship Conference.

A Visão Ampliada

É esperado que as lideranças técnicas consigam ter uma visão mais ampla, isto é, que vejam o “quadro geral” da situação. Nesse sentido, engenheiros experientes sabem que a resposta para a maioria das escolhas tecnológicas é “depende”. Desse modo, é essencial conhecer os detalhes locais, o tempo, o dinheiro, e as necessidades do negócio. Isso acontece geralmente porque equipes tendem a otimizar as decisões para seus próprios interesses. Ou seja, decisões que parecem ótimas para um time podem não ser as melhores para a empresa como um todo.

Além disso, a necessidade de antecipar como as decisões de hoje irão afetar o futuro é muito importante, e a liderança técnica precisa puxar essa responsabilidade para si. Assim, é essencial ter profissionais que possam considerar os objetivos de várias equipes e olhar a longo prazo, ao invés de só tentar resolver o problema instantaneamente. Por fim, esses profissionais precisam influenciar as decisões e escolher o melhor caminho para a empresa.

Mai-Lan, VP de Tecnologia da AWS, vê o papel de alguém na carreira técnica bem mais amplo e as vezes pontual. Ela escreveu um texto no linkedin que explica essa visão.

É preciso evitar que o time de Staff Engineer seja visto como “Bombeiros de Luxo”, apagando fogo quando aparece!

Para encerrar

As funções de staff engineer são ambíguas por definição, e cabe a cada profissional descobrir e decidir o que sua função representa. Contudo, são líderes técnicos, e a função demanda experiência técnica sólida. Além disso, é super necessário ter clareza sobre o escopo de trabalho, e escolher um foco principal que seja importante e que não desperdice suas habilidades.

Por fim, o alinhamento extratégico com a gestão é fundamental para definir as expectativas e garantir que todos estejam na mesma página. Assim, a função pode ter formatos diferentes, mas sempre com o objetivo de contribuir para o sucesso da organização.

 

Imagem de capa gerada no Bing com o prompt: “Gere uma imagem com um homem de costas, com cabelo preto e curto, olhando para frente e vendo dois caminhos distintos, um levando para o lado direito e outro para o lado esquerdo. A imagem deve ser em Pixel Art e as cores predominantes devem ser Laranja, Roxa e Azul”

Sobre Diego Nogare 357 Artigos
Diego Nogare é Gerente Técnico de Engenharia de Machine Learning no Itaú-Unibanco. Também é professor em programas de pós graduação no Mackenzie e na FIAP, em São Paulo. Foi nomeado como Microsoft MVP por 11 anos seguidos, e hoje faz parte do programa Microsoft Regional Director.